O ser humano não precisa de um coelho de Páscoa, antes sim, do cordeiro da Páscoa. As lojas sofrem uma transformação radical na disposição e apresentação dos produtos já existentes, pois chegaram aqueles que vão reinar nas prateleiras, pelo menos por alguns dias, e vidrar os olhos de todas as crianças, desde as menores até as “crianças” maiores – os famosos ovos de Páscoa. As escolas de educação infantil alteram a normalidade de suas atividades, a fim de que as crianças assumam um nova cara e um breve “sonho”, o sonho de ser coelho por um dia, pois afinal, é Páscoa.
Em meio a essa confusão achocolatada pascal, até o Mickey Mouse sai dos refletores e dirige-se ao camarim, tendo em vista que um outro animal já ganhou a cena – O “coelho de Páscoa”. O coelho, mamífero roedor silvestre, já domesticado, caracterizado por longas orelhas, bela pelagem, dois pares de dentes incisivos superiores, deslocamento por pulos ligeiros, e por uma reprodução rápida e abundante, apesar de tornar-se o símbolo mitológico da superstição de fertilidade e prosperidade de alguns povos do mundo antigo, permanece impotente para acrescentar qualquer benefício significativo, diante do real sentido da Páscoa.
O termo “Páscoa”, oriundo do verbo hebraico Pasah e do substantivo Pesah, significa “passar sobre algo”, “passar através”, “passar por cima”, e ainda significa “cordeiro pascal”. Tais significados, relacionam-se com a última das dez pragas enviadas por Deus contra o Faraó e toda a terra do Egito, por ocasião da libertação do povo de Israel da escravidão naquela nação, ou seja, a praga da morte de todos os primogênitos em todo o Egito, humanos e animais, registrada no livro de Êxodo 12:1-36. Entretanto, nenhum dos primogênitos do povo de Israel foi ferido pelo juízo de Deus, porquanto o Senhor “passou por cima ou sobre suas casas” sem atingí-los. A razão de tal livramento foi a confiança na Palavra de Deus de que tudo se cumpriria e a resultante obediência em marcar os batentes das portas com o sangue de um cordeiro separado para aquele fim, conforme se lê: “O cordeiro será sem defeito, macho de um ano; podereis tomar um cordeiro ou um cabrito...Tomarão do sangue e o porão em ambas as ombreiras, e na verga da porta, nas casas em que o comerem... Desta maneira o comereis: lombos cingidos, sandálias nos pés e cajado na mão; comê-lo-eis à pressa: é a páscoa do Senhor. Porque naquela noite passarei pela terra do Egito, e ferirei na terra do Egito todos os primogênitos, desde os homens até os animais; executarei juízo sobre todos os deuses do Egito: Eu sou o Senhor. O sangue vos será por sinal nas casas em estiverdes: quando eu vir o sangue, passarei por (“cima de”) vós, e não haverá entre vós praga destruidora, quando eu ferir a terra do Egito. Este dia vos será por memorial e o celebrareis como solenidade ao Senhor: nas vossas gerações o celebrareis por estatuto perpétuo” (Êxodo 12:5, 7, 11-14).
Este memorial prefigurava o cumprimento perfeito da Páscoa de Deus que se consumou na vida impecável de Jesus, O Cristo, e, principalmente, em sua morte como o substituto providenciado pelo próprio Deus em lugar dos pecadores, a fim de que, pelo seu sangue, livre do juízo e da “ira vindoura” de Deus todos aqueles que renderam-se ao senhorio de Jesus Cristo, pela fé no Evangelho. Deus não mais requer, nem aceita sacrifícios de sangue, sejam animais ou humanos, pois as Escrituras afirmam: “Ora todo sacerdote se apresenta, dia após dia, a exercer o serviço sagrado e a oferecer muitas vezes os mesmos sacrifícios, que nunca jamais podem remover pecados; Jesus, porém, tendo oferecido para sempre, um único sacrifício pelos pecados, assentou-se à destra de Deus... Porque como uma única oferta aperfeiçoou para sempre quantos estão sendo santificados” (Hebreus 10:12-14). Por isso, João Batista, ao ver a Jesus, indicou: “Eis o cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo! (João 1:29), e pela mesma razão o apóstolo Paulo escreveu: “...e como, deixando os ídolos, vos convertestes a Deus, para servirdes o Deus vivo e verdadeiro, e para aguardardes dos céus o seu Filho, a quem ele ressuscitou dentre os mortos, Jesus, que nos livra da ira vindoura.”(I Tessalonicenses 1:9-10). O ser humano não precisa de um coelho de Páscoa, antes sim, do cordeiro da Páscoa.
Pr. Jamil Abdalla Filho